Dívidas e cobranças

Já pensou nas vezes que teve dívidas? Ou que ficaram devendo para você? Há todo tipo de dívidas, de dinheiro, de favores, de atitudes que nos fazem ou fazem aos outros sentir o peso de estar em dívida com alguém. Acho que todos em algum momento tivemos, temos ou nos sentimos em dívida. Alguns sabem como cobrar, outros nem tocam no assunto, bastantes não deixam esquecer que somos devedores. Meu pai dizia que no caso de algum amigo pedir dinheiro emprestado, não o fizesse, caso eu tivesse condições era melhor que desse o dinheiro de presente, senão perderia o amigo. Sofri alguns prejuízos materiais, morais e espirituais no transcurso da minha vida. Todos eles deixaram sua marca, alguns positivos e outros com a carga da culpa que levamos nos ombros. Tem dois ditados que nunca saem da minha cabeça. O primeiro, que minha avó sempre dizia: “Non calentarum largum vivirum”. Ela não sabia latim, nem sei se esse ditado saiu da sua mente espirituosa ou tinha ouvido falar em algum lugar. Quando lhe perguntei o que significava me diz: – É muito simples, se um problema não tem solução não adianta preocupar-se, e caso tenha solução em algum momento do futuro, também não deve preocupar-se é só aguardar o tempo certo para resolve-lo. O outro ditado, bem conhecido por todos nós é: “Devo, não nego, pago quando puder”. Isto não significa esquecimento da dívida, mas simplesmente que faltam os meios para honra-la, porém quando a situação melhore será quitada corretamente. Também nos vemos na caminhada que fazemos neste mundo, na situação oposta, a dos credores. Incontáveis vezes ajudamos alguém de alguma maneira. Alguns disseram obrigado, outros até esqueceram de devolver o dinheiro, favor ou gentileza dada espontaneamente.
Imagino que quase todos meus leitores já fizeram alguma vez um empréstimo bancário. A situação reproduz um pouco como é a realidade do ser humano. No geral somos incapazes de inventar ou produzir alguma coisa que não reflexe o que somos. Caso você tenha dinheiro ou a capacidade de tê-lo o gerente será agradável e atencioso, caso contrário nem será recebido por ele. Quando quite o empréstimo na data combinada mais sorrisos e palmadas nas costas, imediatamente lhe será oferecido uma nova ajuda ou oportunidade de investimento. Você é ótimo. Na situação contrária, de atraso ou inadimplência, será perseguido via telefone, telegrama, cartas, e-mail e todos os meios de comunicação possíveis. Mais do que perseguido, melhor diria caçado. Muitas vezes fazemos o mesmo, até de maneira de cobrança emocional e até espiritual quando acreditamos que alguém está em dívida conosco.
Por isso quando se fala de dívidas e cobranças, não será que nos comportamos de forma diferente dependendo de que lado da moeda estejamos? Não será que cobramos juros muito altos quando pensamos que alguém nos deve? Não será que não somos suficientemente agradecidos quando devemos favores? O último pensamento da semana, lembrando meu inesquecível primeiro treinador de rúgbi, Professor Gutierrez, quando tinha 9 anos de idade: – Sejam dignos na derrota e magnânimos no triunfo. Fazendo uma adaptação: Sejamos dignos quando devemos e magnânimos quando nos devem.

Boa semana!

5 Comments

  1. Carlos Enrique Perez Otàlora said:

    Muy bueno, Ricardo. ABRAZO
    Quique

    12 de março de 2017
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  2. Mesquita said:

    Professor, creio que durante a nossa existência sejamos mais devedores do que tenhamos a receber, mas o mais importante é termos a grande virtude de sabermos agradecer seja qual for o tamanho e a origem da dívida. E não esquecer de sermos magnânimos com a dádiva pela luz do sol, o brilho das estrelas, e podermos nos enamorar do charme da lua. Não há presente mais belo que podermos ver as cores da existência. Obrigado por nos ter enriquecido até aqui com o conteúdo de suas crônicas e saber que apesar da distância nossa amizade tem rompido fronteiras. Obrigado por você fazer parte da trajetória de muitos de seus leitores como eu. Forte abraço.

    6 de março de 2017
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    • Caro amigo: Entre amigos não podem existir dívidas ou cobranças. A amizade é como dois rios que se unem e formam um rio maior. Como saber qual água do novo caudal pertencia a algum dos rios que formaram o novo. A amizade faz que as novas águas viagem juntas independente dos terrenos pelos os que cruzem ou os eventuais desvios que apareçam no seu avanço para chegar ao mar, onde todas as almas se unem para navegar na eternidade.
      Um grande abraço.
      Ricardo

      8 de março de 2017
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