Imaginação R.I.P.

R.I.P (sigla proveniente do inglês Rest In Peace – Descanse em Paz). Sim, caros leitores, acredito que estamos testemunhando os tempos da imaginação moribunda.
Antigamente (e não é saudosismo) os professores de matemática nos faziam voar a imaginação com os números, nos ensinavam que os números eram uma forma de dialogar com o universo e que era o idioma universal e interplanetário. Nos diziam, e com razão, que a matemática está na música, na linguagem, na natureza e nos fascinavam com exemplos práticos disto. Alguns anos atrás comecei a ouvir dos alunos que alguns eram bons em matemática, mas não conseguiam aprender português ou qualquer língua, já que eles tinham capacidade para os números e não para as línguas. Cada dia esse mantra é mais e mais comum, quando em realidade linguagem e matemáticas são simples representações gráficas do raciocínio e de imagens.
Também é surpreendente a pouca capacidade leitora de nossos alunos. Quando falo de capacidade leitora não estou falando do ato de decodificar letras e palavras, estou descrevendo a qualidade de ler um parágrafo e poder transformá-lo numa imagem que possa ser relacionada com a cultura de quem está lendo e a cultura daquele que o escreveu. Estou falando da capacidade de estabelecer relações geográfico-históricas com o tempo em que foram escritas essas palavras com o tempo do leitor atual. Estou falando da capacidade de viajar com a imaginação.

Imaginação: 1 Faculdade mental de representar imagens novas ou anteriormente percebidas. 2 Faculdade mental de conceber e criar imagens novas a partir da combinação de ideias.

Percebo, cada dia mais, nos meus netos, alunos e jovens em geral, a falta de capacidade de compreender ou tomar-se o tempo necessário para conseguir captar as mensagens do que se lê. Tudo é muito rápido e a imaginação necessita de tempo para compor o quadro pintado com os pinceis de nosso conhecimento e fazer a relação com as cores do que sabemos.
Quem já leu livros que depois foram levados para o cinema, e os assistiram sabem do que estou falando. Os Três Mosqueteiros de Alejandro Dumas lido permite que cada um de nós escolha um dos personagens da história e o vivamos interagindo com as aventuras que se desenrolam na leitura. Quando assistimos ao filme nossa imaginação para de atuar e somente vemos o que passou na imaginação do diretor do filme. Viver sem imaginação é como deixar que outro mastigue a comida que engolimos. Ler sem imaginação é simplesmente, compreender sem viver as mensagens que o autor enviou, diretamente, à tela de nossa mente para que possamos ser protagonistas e não simples espectadores. Talvez fosse isso o que Shakespeare quis dizer quando falou que a vida é como o teatro, alguns são protagonistas e outros espectadores. Estamos transformando várias gerações em espetadores em lugar de educar protagonistas, líderes que nos poderiam liderar para quebrar os esquemas de corrupção e imoralidade que nos rodeiam.

Boa semana

2 Comments

  1. Mesquita said:

    Caro Professor, é verdade que observamos a cada dia uma maior dificuldade dos jovens em interpretarem o que lêem. Também constatamos uma pobreza cada vez maior no vocabulário para melhor se expressarem. Como diz Augusto Cury, “o sistema social atual é tão agressivo que tornou os jovens passivos. E ele sugere que pais e professores sejam vendedores de sonhos para torná-los emocionalmente brilhantes”. Forte abraço.

    21 de maio de 2018
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    • Meu amigo é triste ver uma geração de jovens sem sonhos. Sem sonhar, sem imaginar ficamos sem metas e sem objetivos. Lembro quando alguém de nossa geração disse: “O sonho acabou”. Por sorte Martin Luther King logo depois, em seu famoso discurso também disse: “Eu tenho um sonho…” e nos fez sonhar de novo.
      Boa semana.

      21 de maio de 2018
      Reply

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