Velhice

De acordo ao dicionário o estado de velho é: ancianidade, senilidade, vetustez. Os sinônimos mencionados pela definição nos dão a ideia que velhice é algo acabado, praticamente sem mais nenhuma utilidade.
Acho que os autores, editores de dicionários deveriam periodicamente fazer uma revisão dos significados das palavras, já que conheço muitos jovens com mentalidade de ancião, e muitas pessoas com idade acima dos 80 com disposição de 40 anos.
No meu caso específico não falo que estou na terceira idade, mas sim na terceira juventude. Minha mãe, quando brincando lhe dizia: Mãe está ficando velha. Ela respondia: Velhas serão tuas cuecas! E gargalhava com uma risada cristalina.
Minha esposa com mais de 60 e 11 stents no corpo, tem uma vitalidade que muitas mulheres de 30 não possuem.
Velhice é um estado de espírito assim como o sentir-se jovem. O ser humano vive correndo atrás de tempo e desperdiça a experiência daqueles que lhe faria ganhar tempo. Quantas e quantas vezes é possível ver a energia desperdiçada pela humanidade repetindo os mesmos erros, que se tivessem consultado aos mais “velhos” (experientes) o tempo seria melhor aproveitado, mas os jovens gostam de gastar o que eles acham que sobra, o tempo.
A grande diferença está basicamente no uso e significado das palavras. Os jovens se acham espertos, em quanto os “velhos” são os expertos. Quem não tenha lido minha crônica sobre a diferença entre esperto e experto, vale a explicação, o primeiro vocábulo vem de esperteza, o segundo de experiencia.
Vejam como nossa sociedade trata nossos “velhos”: 1) Pouco a pouco são aleijados dos planos de saúde privados porque aumentam os valores dos prêmios que devem pagar para manter uma saúde que todos sabem que eles estão perdendo, ou seja pagam durante 20 ou 30 anos para encontrar dificuldade quando necessitam receber de volta o que contribuíram. 2) Aquele “velho” que consegue continuar trabalhando deve pagar ao estado impostos apesar de estar aposentado e aquele aposentado que conseguiu ganhar uma aposentadoria um pouco melhor deve pagar imposto de renda. 3) O regime de trabalho tolhe o mais possível a contratação de pessoas acima de certa idade, quando em realidade eles seriam capazes de fazer mais em menos tempo e de uma maneira mais efetiva que muitos jovens. Neste último tópico é somente observar pessoas acima de certa idade dirigindo ônibus, nos caixas de supermercados, e até fazendo trabalhos de limpeza com uma alegria e disposição que os jovens parecem ter perdido.
Por isso meus amigos eu, pessoalmente, estou muito feliz por ter uma esposa e amigos expertos. Estou cansado dos espertos que vivem neste mundo. Viva os detentores da experiência!!!!!

Boa semana

6 Comments

  1. Mesquita said:

    Estimado professor, não há duvida que estamos envelhecendo. Não nos preocupemos. De que adianta se é assim mesmo? É um processo, é uma lei natural. Freud disse: “A morte é o alvo de tudo que vive”. Viva é o conselho, faça apenas isso. Abra mão daquela beleza, da memória infalível, da ausência da barriguinha, da bela cabeleira. A flor da idade ficou no pó da estrada da vida. Discreto, sem barulho ou alarde, aceite as imposições da natureza vivendo essa sua fase. Para o nosso bem, esqueçamos o que passou, pois temos muitas coisas interessantes para vivermos na fase que estamos, porque aceitando ou não o processo vai continuar. Esse é o segredo. Não nos preocupemos como a sociedade trata os velhos alijando-os dos planos de saúde, dificuldade de emprego na maioria dos segmentos e tantas coisas mais. Tudo conseqüência exclusiva dos nossos governantes e que os jovens abram bem os olhos a cada eleição para que não venham a ter o mesmo destino de seus pais. Forte abraço.

    4 de junho de 2018
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    • Caro amigo: Acho que fora alguns inconvenientes de percurso a velhice é muito boa. Não temos que nos preocupar se chegaremos a velhos, já estamos na idade dourada. A idade de prata é quando os cabelos vão ficando prateados, a dourada é quando não temos mais cabelo e cobrimos a cabeça com um chapéu dourado. Fora brincadeiras acredito que aquele que viveu uma boa vida não tem medo da velhice, aproveita para rememorar suas andanças. Por isso meu caro, fico feliz de ter compartilhado muitas delas com você.
      Um abraço

      4 de junho de 2018
      Reply
  2. Miguel Blacutt said:

    Ótimo artigo. Nos leva a questionar como o capitalismo reverteu paulatinamente os
    valores. Nas sociedades que o antecedem é possível observar a importância que era dada às pessoas mais velhas e a sua grande experiência de vida. Por causa disso havia respeito e aconselhamento. Mas ainda hoje é possível verificar nas culturas orientais esse respeito e valorização das pessoas mais velhas. Os mais velhos são considerados e reverenciados pelos mais jovens.

    1 de junho de 2018
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    • Quando se vive num mundo globalizado que valoriza a embalagem a despeito do conteúdo, a beleza física não nos permite enxergar a beleza da sabedoria.
      Um abraço

      1 de junho de 2018
      Reply
    • Jarbas Leonel said:

      Concordo com o Miguel: o artigo é muito bom e nos coloca na linha de conflito com o capitalismo das sociedades ocidentais, que supervalorizam a produção e o consumo – características marcantes dos jovens. A produção da velhice é de outra monta: produzimos sínteses, memórias, juízos experientes… Mas isso não tem valor numa sociedade de produção em massa e fast food.
      Não só sociedades antigas, mas todas as sociedades tradicionais atuais – indígenas, aborígenes, esquimós, etc – ainda fazem se seus idosos o “Conselho dos Anciãos”. Sabem que apesar de não terem mais força e agilidade físicas para a lavoura, a caça ou a defesa da comunidade, são indispensáveis na aplicação da justiça, na orientação de decisões e no aconselhamento. Para essas sociedades, não existe a velhice, mas apenas a expertise de que o Ricardo nos fala. Os cabelos brancos e as rugas não são sinais de incapacidade, mas de mudança de status dentro do grupo: de trabalhador e/ou guerreiro para o de conselheiro, parteira, curadores.

      Entendem eles que seus anciãos são a memória e a experiência, com a dupla função de mante-los no caminho aprendido dos antigos e de orientar a caminhada dos mais novos, evitando-lhes quedas desnecessárias.

      Enquanto isso, nossa sociedade relega os idosos à inutilidade da aposentadoria, ao isolamento de asilos.

      5 de junho de 2018
      Reply
      • É isso amigo Jarbas. Quando não existia a mídia eram os anciãos que transmitiam a cultura as novas gerações, eram o elo que principal na estrutura da continuidade de um povo. Hoje a mídia nos impõe uma cultura alheia e estranha à nossa. A melhor maneira de aleijar uma sociedade é destruindo seus velhos e corrompendo seus jovens.
        Obrigado pelo seu comentário.
        Ricardo

        7 de junho de 2018

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