Foros (Fuero em espanhol)

A pedido de meu amigo e camarada Mesquita estou fazendo a tradução de uma história mexicana que recebi em espanhol contando a origem da palavra “Fuero”, que deu origem a palavra portuguesa “Foros”, nas suas acepções de privilégios ou imunidades. https://fernandolizamamurphy.com/2015/11/14/version-mexicana-del-origen-del-fuero/. A origem nas outras acepções, tanto em português como no espanhol vêm do latim “Forum”.
“No entando existe uma história, registrada no livro A OUTRA HISTÓRIA DE MÉJICO, DÍAZ Y MADERO, A ESPADA e O ESPÍRITO, de Armando Fuentes Aguirre, “Catón”, onde relata, que durante uma das inúmeras guerras, batalhas, revoluções e contrarrevoluções que no século XIX disputou esse povo para conquistar sua liberdade e independência, aconteceu um fato que deu origem ao uso desta expressão para dignificar o peso da palavra empenhada.
Em março de 1867 o Imperador Maximiliano de Habsburgo ficou sozinho defendendo seu império de ultramar, em México. Napoleão III, que embarcou nesta aventura, retirou-se junto com suas tropas deixando alguns destacamentos de soldados franceses e belgas. Somadas às tropas que lhe eram leais, o austríaco logrou reunir um exército de 9.000 homens, com os que, aconselhado pelos seus generais, os reuniu no forte de Querétaro donde pensava iniciar uma ofensiva contra as tropas republicanas de Benito Juárez.
Porém Juárez contava com quatro vezes essa quantidade de soldados e junto a ele lutavam alguns norteamericanos veteranos da Guerra de Secessão. Além de ter armamento moderno, especialmente artilharia, excedente dessa mesma guerra. Ainda assim, Maximiliano logrou resistir quase três meses o assédio dos mexicanos até que, traído pelo coronel Miguel López do Exército da Imperatriz, que entregou ao inimigo as senhas para poder entrar, Querétaro caiu.
Junto com a cidade, Maximiliano perdeu o trono e um mês depois a vida, porque foi fuzilado. Ao seu lado caiu todo seu estado maior, entre os que se encontrava o general Severo del Castillo, Chefe do Estado Maior do Exército Imperial, que igual a todos os outros, foi condenado a enfrentar o pelotão de fuzilamento.
Esperando a consumação da sentença, sua custodia lhe foi encomendada ao coronel Carlos Fuero, que havia sido aluno do general na academia militar. Nos conta o autor que na noite prévia à execução, o condenado solicitou falar com seu antigo aluno, que nesse momento encontrava-se dormindo. Ainda assim aceitou o pedido e dirigiu-se à cela do homem que vivia seus últimos momentos.
─Carlos, desculpe que lhe tenha acordado, mas necessito pedir-lhe um favor.
─Caso possa…
─Como tenho somente algumas horas de vida, gostaria confessar-me e fazer meu testamento. Seria possível que viessem o Reverendo Montes e o licenciado Vásquez?
─Não acho que seja necessário, meu general.
─Por que? Não me dará a oportunidade de deixar acertados meus assuntos terrenos e com o Criador? Neste momento tão trascendente para mim, me permito recordá-lhe a amizade que nos unia com seu pai ─replicou, incomodado, o condenado.
─Não se trata disso meu general, senão que é muito mais simples que você vá até eles.
─O que me está propondo, Carlos? ─perguntou o general, estranhando.
─O que lhe falo. Você vai encontrar essas pessoas, enquanto eu fico na sua cela, em seu lugar. Oferecerei mina vida em troca da sua.
─Mas o que dizes é uma loucura!
─Não, é mais cordato que perder tempo indo procurar duas pessoas. Você sabe como encontrá-las e não tem tempo a perder.
─E como sabe que regressarei?
─Porque o conheço e sei que me dará sua palavra de honra.
─Lógico que tens minha palavra, meu filho – lhe disse num abraço.
O coronel Fuero deu instruções aos guardas para que permitissem a saída do general e explicou-lhes que ele ocuparia seu lugar na cela.
Pela manhã, muito cedo, apareceu no quartel o general Sóstenes Rocha, superior de Fuero, que imediatamente foi informado pelos guardas do acontecido. Rapidamente se dirigiu à cela na qual encontrou seu subalterno.
─Então é verdade o que me informaram os guardas.
─Sim, meu general! Caso ele não retorne, me fusila em seu lugar.
─Você está louco! Você não serve como ajustiçado. Necessito o prisioneiro, que é o inimigo.
─Não se preocupe, meu general. Sei que ele regressará.
Enquanto se desenvolvia este diálogo, escutousse a voz do sentinela gritar:
─Quem vive?
A resposta não demorou
─Um prisioneiro de guerra!
O general Del Castillo, depois de arreglar os assuntos pendentes, regressava para enfrentar seu destino.
Sóstenes Rocha, que até esse momento duvidava da decisão de seu subalterno, compreendeu quanto valoravam ambos os soldados a palavra empenhada e emocionou-se. Pela sua boca a história chegou ao seu superior e até inclusive Benito Juárez, quem comprendeu tanto o gesto de Fuero como o valor de Del Castillo e perdoou a ambos.
Então se entendía como “Fuero” o benefício que se obtem em troca de empenhar a palavra e responder por ela, conceito muito longe do que hoje em dia se lhe dá, já que “fuero” se há transformado numa licença para cometer abusos de poder.

Seria interessante que na nossa época a palavra tivesse o mesmo valor que a destes dois homens. Que sirvam de inspiração para aqueles que gostam de levar vantagem em tudo.
Boa semana.

4 Comments

  1. J.M. Mesquita said:

    Caro Ricardo, sumamente impossível esperar que nossos políticos tenham uma conduta semelhante, acho até que nunca jamais em tempo algum. O que eles fazem, praticam, já está enraizado na cultura. A estas alturas dos acontecimentos só com o uso da pena de morte, e olhe lá. Obrigado pela referência e a tradução, esperando que seus leitores também gostem e comentem. Grande abraço.

    14 de agosto de 2018
    Reply
    • Caro amigo: Acredito que dar valor a palavra é o único caminho para melhorar este país. Não somente pelo sentimento de honra, mas principalmente, que cada vez que utilizamos uma estamos dando significado ao que estamos dizendo. As palavras devem voltar a ter conteúdo e não serem vazias como as que ouvimos diariamente. Devemos respeitar a palavra e seus significados.
      Um abraço.
      Seu amigo Ricardo

      14 de agosto de 2018
      Reply
  2. Carlos Alberto Isidoro Alonso said:

    … Si conociera el correo de muchos”políticos” actuales… les mandaría el texto que Me enviaste Tato…. Sabes,… pienso que se reirían y dirían,…. que pedazo de p…. Yo,… Me hubiese rajado a la mir.. Ya no existen mas ese Tipo de gente y menos …. el compromiso de dar la ” palabra “… y cumplirla, no Te parece estimado Primo?

    13 de agosto de 2018
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    • Lo último que se pierde es la esperanza. Quien sabe si, por lo menos, algunos de nosotros continuamos creyendo en la palabra dada, el mundo a nuestro alrededor cambia un poco.
      Un gran abrazo
      Ricardo

      13 de agosto de 2018
      Reply

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