Você sabe ler uma notícia?

Quando lemos uma notícia devemos prestar muita atenção nos adjetivos. Dependendo do adjetivo podemos estar lendo uma opinião e não um fato. O exemplo mais comum nestes dias é:

O Presidente Bolsonaro, o “mito” disse…

O Presidente Bolsonaro, “o Bozo” disse…

         Os adjetivos já nos estão informando qual é a opinião de quem nos vai relatar a notícia ou o fato em questão. Lógico que o exemplo que utilizei é muito extremo, porque nos dias que estamos vivendo acredito que muitos linguistas estão sendo contratados pelos dois lados da guerra política que estamos sofrendo. Não esqueçam que ganhe quem ganhe, na realidade nós somos carne de canhão e/ou vítimas colaterais.

         E quem somos nós? Nós somos aqueles que não militamos em nenhum dos dois exércitos políticos que estão se enfrentando. Somos aqueles que torcemos pelo país e aplaudimos as boas decisões do governo e percebemos quando o mesmo governo comete erros. Da mesma maneira que condenamos à oposição quando somente quer atrapalhar aos que estão no poder ou a parabenizamos quando faz oposição consciente defendendo os direitos do povo.

         O segredo para discernir um fato das opiniões é prestar muita atenção nos adjetivos que circundam uma notícia. Uma morte pode ser natural, suspeita, suicídio, assassinato, acidente, homicídio. Quando alguém comete um erro, uma notícia pode dizer: Uma vez mais Fulano errou ou Fulano cometeu um erro. Qual é a diferença? Na primeira frase estou julgando e opinando que Fulano comete muitos erros, em lugar de falar do erro em questão. Vejo nas redes sociais uma maioria silenciosa que fica calada enquanto poucos se apropriam manifestando seu apoio para A ou B, como torcedores de futebol que desejam que seu time ganhe independentemente se sua equipe joga bem e lealmente obedecendo às regras do jogo. O mesmo acontece com as redes profissionais, muitos se estão retirando das mesmas porque se hão transformado em campos de batalha política em lugar de discussões inerentes as profissões que deveriam representar.

         Adjetivos que deveria ser somente para enriquecer um texto agora estão sendo utilizados como armas para manipular. Não somente os adjetivos têm entrado em essa luta, podemos ver que outros elementos gramaticais também estão entrando nos campos de batalha das notícias influenciadoras de opinião como: num ato de caridade fulano fez uma doação de …, é bem diferente de dizer: num “ato de caridade” fulano fez uma doação de …

         Dizer que alguém fez algo impulsivamente é diferente de dizer que alguém fez algo impensadamente. Devemos ter cuidado com a carga de nossas opiniões quando relatamos um fato.

         A próxima vez que leia uma notícia, retire os adjetivos e talvez consiga ver o fato na notícia e não a opinião daquele que a veicula.

Boa semana

6 Comments

  1. André Chaves said:

    Gostei muito, meu amigo. Parabéns!!!

    27 de março de 2020
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    • Adorei sua observação sobre “carne de canhão”, é uma contaminação do espanhol, deveria realmente ser “bucha de canhão’. Obrigado

      27 de março de 2020
      Reply
  2. Robson said:

    Muito bom, Ricardo!

    Gostei bastante.

    Parabéns!

    Um abraço

    27 de março de 2020
    Reply
  3. Mesquita said:

    Caro professor, vc sempre atento aos maus hábitos de quem fala, de quem escreve, de quem interpreta, mas sempre corrigindo e orientando. Muito bom, mas todos esses erros por vc alertados creio ser decorrentes da queda de nível do ensino no país de alguns anos para cá. Enquanto estiverem errando assim menos mau, quando o pior são aqueles que saem das faculdades sem condições de cá fora prestarem um serviço de qualidade, conforme espera aqueles que os contratarem, se tornando em muitos casos em situações de risco, seja financeiro ou com a própria vida. Forte abraço. Mesquita

    27 de março de 2020
    Reply
    • Meu amigo e fiel camarada. Como sempre seus comentários enriquecem meus textos.
      Um grande abraço.
      Ricardo

      27 de março de 2020
      Reply

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