Platão, a caverna e as etiquetas

O grande filósofo Platão está mais atual que nunca. Com sua história sobre a caverna, que tem se transformado num mito, enxergou não só sua época, senão também os dias de hoje.

         Vivemos num mundo que se divide em etiquetas, esquerdista, direitista, centro-esquerda, centro-direita, nazista, comunista, ateus, evangélico, umbandista e por aí vai. Aquele que não se identifica com nenhuma corrente pré-determinada de pensamento é um bunda mole, alguém sem opinião. O problema é que tendo sido etiquetado, você não pode sair do caminho do pensamento já estabelecido pelos intelectuais dessa etiqueta, caso assim o faça será um reacionário.

         Onde entra Platão nisto? E a caverna? Muito simples. Aqueles que vivem dentro de uma etiqueta estão dentro de uma caverna intelectual, estão acorrentados numa parede de doutrinas que não podem ser questionadas, e essa pessoa somente pode olhar para frente, para a parede na qual se percebem as sombras dos intelectuais mores das respectivas etiquetas. A luz que vem detrás somente ilumina as sombras dos pensamentos que deverá seguir. Caso alguém se liberte dos grilhões e saia fora da caverna da etiqueta, poderá observar que há muitas cavernas, nas quais as pessoas estão acorrentadas com etiquetas diferentes. Também poderá ver que há algumas pessoas, poucas por sinal, que passeiam livremente por todo canto e não entram em nenhuma caverna. Essas são as pessoas que controlam as cavernas, são amigos entre si, conversam, mantém e combinam técnicas para manter as pessoas dentro das suas respectivas cavernas.

         Estas pessoas somente têm medo dum vírus terrível, um vírus chamado “senso crítico”. Este vírus é tão perigoso que deve ser eliminado assim que é visto, ou se suspeite que exista. É altamente contagioso, e produz efeitos imediatos. Transforma as pessoas etiquetadas em livres pensadores, que aprendem a discernir o certo do errado, sem necessidade das sombras nas paredes das cavernas.

         A prevenção contra este vírus começa nos colégios, nos quais não se pode ensinar a pensar, senão a seguir os ensinamentos das sombras nas paredes das cavernas. Nos ensinam a ter medo de pensar por nós mesmos, é muito perigoso e nos pode levar a sermos contaminados pelo vírus do “senso crítico”.

         E você meu caro leitor continua etiquetado ou já foi contaminado pelo vírus?

Boa semana

6 Comments

  1. Robson said:

    Salve, Ricardo!

    Já fui muito etiquetado. Já etiquetei muito também. Agora não quero nem etiquetar nem ser etiquetado. Será que fui contaminado pelo vírus? Bom, que não seja o Covid.

    Abraço.

    1 de abril de 2020
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    • O importante é chegar a certa idade e perceber o problema das etiquetas. A maioria das pessoas passa a vida
      etiquetando e deixando que a etiquetem. Parecem essas máquinas de supermercados para alterar os preços.
      Quem percebe o problema é o início da solução.
      Um abraço.
      Ricardo

      1 de abril de 2020
      Reply
      • Mesquita said:

        Caro professor, é tudo uma questão de bom senso, coerência e saber ter o senso crítico. Saber buscar informações antes de tomar uma decisão ou tirar uma conclusão, ter a capacidade, como você muito bem coloca, de discernir o certo do errado, ficando o mais longe possível das mencionadas sombras das paredes das cavernas. Forte abraço. Mesquita.

        3 de abril de 2020
      • Meu caro amigo. Justamente esse deveria ser o propósito da educação, ajudar que os estudantes desenvolvam o senso crítico.
        Lamentavelmente nosso sistema de educação está mais preocupado em doutrinar os alunos em lugar de ensinar a prensarem por si mesmos.
        Um abraço
        Ricardo

        4 de abril de 2020
  2. Marcos said:

    Excelente texto, Ricardo!
    Importante deixar o mundo mais contaminado de cabeças pensantes. A maior ameaça a raça humana é o vírus da ignorância intelectual.

    31 de março de 2020
    Reply
    • Concordo totalmente, o pior vírus é o da ignorância produzida pela falta de senso crítico.
      Um abraço.
      Ricardo

      1 de abril de 2020
      Reply

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