Corporativismo e os porcos selvagens

Observação: Antes de dar início à minha crônica desejo esclarecer que o fato de ter escolhido a “Nomenklatura” e os servidores públicos foi a título de exemplo, já que existem inúmeras organizações (religiosas, militares, comerciais, políticas etc.) que utilizam um sistema similar, e no caso dos servidores públicos também foi um exemplo de membros de muitas organizações como sindicatos, associações comerciais e de classe, multinacionais, partidos políticos etc. que praticam o protecionismo de seus integrantes. No que se refere aos porcos selvagens deixo ao leitor que tire suas conclusões.

         A palavra nomenklatura nasceu do título da obra do historiador soviético Michael Voslensky “Nomenklatura”, publicada em 1980, e que descreve o rosto dos verdadeiros detentores do poder na União Soviética à época, 750.000 privilegiados que constituíam a classe dominante e exploradora do povo soviético. Aconselho sua leitura.

Quarenta anos depois, podemos ver a implantação do sistema da “Nomenklatura”, sob diversos nomes ou denominações, em muitas supostas democracias do mundo atual.

No nosso país ou no país vizinho Argentina, podemos observar a existência deste tipo de estrutura de pessoas que disfrutam das benesses do Estado em detrimento do povo. No Brasil existem aproximadamente 12.000.000 de pessoas que recebem seu salário diretamente do erário público. Os servidores públicos ganham em média o dobro do que ganha um empregado da iniciativa privada. Nem todos os servidores públicos fazem parte desta “Nomenklatura”, alguns até ganham bem pouco.

Estes membros da “Nomenklatura” brasileira além dos valores com os quais são remunerados recebem benefícios que estão fora do alcance do trabalhador médio brasileiro, como: altos vales refeições, vales supermercados, seguros saúde, estabilidade, muitas vezes 14, 15 salários anuais. Na medida que se vai subindo na escada da “Nomenklatura” os salários, benefícios e benesses vão aumentando exponencialmente, tendo casos de servidores que ganham 100, 200, 300, 400 e até 500 vezes do que ganha um trabalhador comum.

Quem não faz parte desta “Nomenklatura”, pode perder o trabalho, pode ser dispensado a qualquer momento. Em contrapartida quem é da “Nomenklatura” sempre vai encontrar um abrigo em alguma repartição ou estatal. Basicamente a “Nomenklatura” consiste numa lista de nomes de pessoas que pensam igual a você (ou fazem de conta que pensam igual a você para entrar dentro do esquema). A “Nomenklatura” fica cada vez mais forte na medida em que ensinemos às pessoas a procurar vantagens em lugar do que é certo e correto. Por isso para conseguir seguidores usam a técnica de captura dos porcos selvagens que consiste no seguinte: No meio de uma clareira se coloca o alimento preferido dos porcos selvagens durante vários dias, ao mesmo tempo se vai construindo  uma cerca pouco a pouco, quando os porcos não estão comendo. Os porcos continuarão indo à clareira para alimentar-se, dia após dia. A cerca vai se fechando até ficar uma pequena entrada. Os porcos que foram se acostumando ao ambiente, não percebem que cada dia a entrada é menor. Quando chegamos a esse ponto, enquanto os porcos estão comendo, fechamos a cerca e os porcos perderam a liberdade.

Qualquer semelhança com fatos atuais é mera coincidência.

Boa semana

8 Comments

  1. Cristiana said:

    E uma tristeza ver como todos estamos obedecendo com olhos fechados ,cheios de medos fiticios e com cerebro lavado
    Indo despacito a destrucao total

    9 de junho de 2020
    Reply
    • La educación en lugar de enseñar a tener sentido crítico para poder analizar el mundo que nos rodea, está
      enseñando a los jóvenes doctrinas memorizadas y de esa manera no pensar ni razonar. La peor esclavitud es
      la que coloca cadenas en nuestro cerebro.
      Un gran abrazo y mucho cariõ para ti y familia.
      Tati

      10 de junho de 2020
      Reply
  2. Mesquita said:

    Caro professor, o enfoque de sua crônica deixa muito claro o que vemos a cada dia, a cada noticiário, o que acontece neste país. Essa nomenklatura faz parte integrante da política e da mentalidade do nosso povo nos vários segmentos da sociedade, infelizmente. Quem lê as notícias sabe muito bem, não valendo a pena aqui dar nomes aos bois. Quanto a captura da “vara” de porcos continuará tudo no mesmo por muito tempo a cada eleição, a cada mandato, restando aqueles que entenderem que não fazem parte da vara a abrirem novas frentes contagiando cada vez mais pessoas interessadas em vislumbrarem um futuro de horizontes promissores. Sabemos que o baixo nível cultural de expressiva maioria do povo não trará mudanças a curto nem a médio prazo. Quem viver verá. Forte abraço, Mesquita

    8 de junho de 2020
    Reply
    • Caro amigo: O mundo tem mudado, espero que as pessoas mudem também, caso contrário teremos mais vítimas
      que na pandemia dos corona vírus. Aqueles que não deixem de seguir os porcos sem olhar para onde vão estão
      destinados a sumir do mapa junto com eles. Vislumbro uma nova época ou era, a era do ser humano ético que
      deixe de comportar-se como um vírus infetando a natureza e passe a ter a conduta com os valores que sempre
      foram atribuídos, teoricamente aos seres humanos.
      Um abraço.

      9 de junho de 2020
      Reply
  3. Claudia Miranda said:

    Excelente analogia!!

    7 de junho de 2020
    Reply
  4. Sergio said:

    A história sempre se repete mesmo que sob nova e hipnotizante plumagem!

    7 de junho de 2020
    Reply
    • Será que algum dia deixaremos de escrever sobre isto e tomaremos alguma atitude?

      8 de junho de 2020
      Reply

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.