De quem é a culpa?

Lendo ou escutando as notícias, é evidente que a culpa é do povo que não sabe votar. Será? Na minha modesta opinião a culpa é da educação, de nós professores que não cumprimos com o juramento feito no dia que recebemos nossos diplomas.

Por que digo isto? Muito simples, porque estamos tão preocupados em transmitir conhecimentos que esquecemos que simplesmente somos guias que mostramos o caminho para a descoberta do saber. Se os alunos não descobrem o conhecimento por si mesmos, e só o adquirem através do que nós pensamos, não estamos educando, estamos doutrinando. Aqui não estou falando de esquerda ou direita, conservadorismo ou liberalismo, estou falando de ensinar o senso crítico, o bom senso.

Quando vemos uma sala com 30, 40 ou 50 alunos, é nossa obrigação saber que nem todos aprendem da mesma maneira ou à mesma velocidade. Um professor deveria recusar-se a ensinar utilizando métodos que não contemplem essa realidade. Sei que há conteúdos programáticos que são impostos pelos governos. Mas devemos acatá-los sabendo que não são adequados ou fora da realidade dos alunos? Como ensinar o mesmo conteúdo para alunos que vivem no meio do sertão que a alunos que moram no bairro de Leblon no Rio de Janeiro?

Educar é, de certa forma, como construir. Seria totalmente descabido construir da mesma maneira uma moradia em Manaus do que em Gramado, a realidade de cada lugar, assim como os materiais e necessidades de cada um são bem diferentes. O mesmo acontece com a educação. Para fazer uma relação entre o dia a dia de um aluno com o que se quer ensinar, devemos levar em consideração a realidade de cada região, de cada vila, de cada bairro. E isso é responsabilidade de cada professor que deve adentrar-se na alma da sociedade na qual está inserido para poder comunicar-se com seus alunos. Os professores que são funcionários do governo, muitas vezes sacrificam suas convicções profissionais em função de conservar seus empregos, assim como os que são empregados de instituições privadas se sujeitam a restrições ou regulamentos que têm mais a ver com o lucro do que com a eficiência da educação.

Educar é um sacerdócio, não podemos ser mercenários da educação que trabalhamos para quem melhor paga ou nos ampara. Nosso verdadeiro empregador é o aluno, é a ele que devemos satisfação, é nossa responsabilidade profissional. Da mesma maneira que a responsabilidade de um médico é o doente, e não à instituição para a qual trabalha.

Vivemos numa sociedade na qual o certo e o errado, justo ou injusto estão vivendo lado a lado numa bruma confusa formada pelo dinheiro e o sucesso, que a maioria das vezes faz com que fiquemos, ou nos façamos de cegos. Não sei se todos concordaram com minha opinião, mas espero que haja alguns, para o bem de nossas crianças.

E você meu caro, está dentro da bruma, tentando sair ou não enxerga nada?

Até a próxima.

2 Comments

  1. Mesquita said:

    Caro Professor, muito boa esta sua crônica, esperando que seja bem entendida pelos professores que dela tomem conhecimento. Parabéns, forte abraço. Mesquita

    30 de setembro de 2020
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    • Caro amigo: Os professores que aprovem esta mensagens são os professores que quero chamar de colegas, os outros com certeza não são. Da mesma maneira que os médicos devem considerar colegas aqueles que vivem de acordo ao juramento de Hipócrates, e não considerar colegas aqueles que não seguem ou vivem esse juramento. Devemos aprender a escolher nossos aliados, e tomar partido de uma vez por todas.
      Um abraço
      Ricardo

      30 de setembro de 2020
      Reply

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