Curiosidades da ignorância

Durante muito tempo pensei que bom senso equivalia a senso comum, e que tinha muito a ver com senso crítico. Pesquisei um pouco e vejam o que encontrei.
Para Aristóteles, o bom senso é “elemento central da conduta ética. Uma capacidade virtuosa de achar o meio termo e distinguir a ação correta, o que é em termos mais simples, nada mais que bom senso.” O bom senso é muitas vezes confundido com o senso comum.
O senso comum pode refletir muitas vezes uma opinião errônea e preconceituosa sobre determinado assunto, enquanto o bom senso é ligado a ideia de sensatez, a intuição de distinguir a melhor conduta em situações específicas. O senso comum se caracteriza por conhecimentos empíricos acumulados ao longo da vida e passados de geração em geração. É um saber que não se baseia em informações e conhecimentos úteis no cotidiano. O senso comum é uma herança cultural que tem a função de orientar a sobrevivência humana nos mais variados aspectos.
Senso crítico significa a capacidade de questionar e analisar de forma racional e inteligente. Através do senso crítico, o homem aprende a buscar a verdade questionando e refletindo profundamente sobre cada assunto.
Em outras palavras, quando um professor ensina de acordo ao seu bom senso está ensinando de acordo ao seu ponto vista e está influenciando seus alunos a ver a realidade desde seu ponto de vista. No caso de ensinar de acordo ao senso comum, está projetando conhecimentos de acordo à sua bagagem cultural e não de acordo com a realidade. O que vejo em todas as conferências e diretrizes sobre educação é que devemos ensinar aos nossos alunos a terem senso crítico. Conclusão: o que devemos fazer é apresentar fatos sem interferência de nosso bom senso ou senso comum, ou sequer de nosso senso crítico. Uma forma muito interessante de praticar o senso crítico do professor e dos alunos é escrever num pedaço de papel uma lista de três convicções absolutas que cada um possui em qualquer área. Logo procurar temas que sejam opostos as nossas convicções declaradas e ter que defender num debate as opiniões contrárias ao que nosso ser defenderia.
Caso tivéssemos a capacidade de observar uma pirâmide girando no ar, poderíamos perceber que dependendo do ângulo dessa observação, teríamos a impressão de enxergar um quadrado, ou um triângulo, etecetera. O mesmo acontece com as ideias, se somente nos é apresentada uma visão determinada da realidade embutida no abstrato, ficaremos sempre achando que essa é a única maneira de ver essa determinada situação. Observando as aulas dadas por mim e por outros professores é obvio que a função mais difícil de um mestre é a sua capacidade de cultivar o espírito crítico naquele que ensina. A vaidade do conhecimento é o maior empecilho de ensinar a outros como questionar aquilo que achamos verdades absolutas.
Ser isento de opinião e participar de uma construção crítica do conhecimento ao mesmo tempo que seus alunos aprendem, acredito que assim se consegue a função de aprender-ensinando-aprender que Paulo Freire preconizou.

Boa semana.

Ricardo Irigoyen

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