Ilações, verdades ou mentiras

É muito interessante ver como os políticos resgatam palavras do português (tão rico em seu vocabulário) e ajudam muito na educação de nossas crianças. Ultimamente temos visto utilizar palavras como mal feitos, que ficou de moda com nossa última presidente, e agora entrou na onda, ilações, também graças a nossa mais alta autoridade na atualidade.
Inferir é um sinônimo de ilação e graças a isto estou podendo colocar na mente de meus alunos o significado de inferir, que todos nós professores usamos normalmente nos enunciados de perguntas. Imagino que os professores de filosofia também poderão utilizar esta moda de usar palavras de pouco uso no nosso dia a dia, seguindo o exemplo do grande escritor Saramago, quando expliquem que ilação é um dos métodos de uso do silogismo (lembram Aristóteles?), sistema do raciocínio que permite que possamos chegar a qualquer conclusão que desejemos.
Silogismo verdadeiro: – Todo ser vivente deve morrer, sou um ser vivente, logo vou morrer.
Silogismo mentiroso: – Uma autoridade é corrupta, e uma autoridade somente pode ser um ser humano, logo todos os seres humanos são corruptos.
O que não devemos esquecer é que quando inferimos algo, somente podemos fazê-lo a partir de um discurso específico. Os silogismos somente funcionam se a primeira premissa é verdadeira, isso se chama silogismo científico, porque parte de um fato totalmente comprovado. Qualquer outra ilação que seja feita a partir de fatos não comprovados transforma-se em um silogismo dialético ou hipotético, ou seja em meras suposições ou hipóteses.
O preconceito é alimentado através de ilações, e a verdade é descoberta através de inferir os fatos. Quando falamos deste tema temos uma situação igual a uso do veneno, em poucas dosagens é remédio, em altas dose mata. Tudo depende no fim de cada indivíduo, da ética do mesmo, da educação e do preparo que tenha para fazer conclusões do discurso que está sendo avaliado. Nunca vou esquecer a história de uma escola em São Paulo, que os donos e professores foram acusados de pedofilia. Foram feitas uma série de ilações que destruíram pessoas e acabaram com uma instituição educacional. Quando foi comprovado que os fatos não correspondiam as ilações feitas já era tarde. Não sei o que aconteceu depois com essas pessoas, espero que tenham podido refazer suas vidas. Também é possível ver como alguns juízes fazem inferências da lei para soltar ou dar penas menores para pessoas de “prestígio” e chegam a conclusões diferentes quando as pessoas são de pouco realce na sociedade.
Nós como sociedade somos a soma dos indivíduos que formamos parte dela. A educação é o único caminho para ensinar as nossas crianças a usar as ferramentas do conhecimento para ter espírito crítico. Uma sociedade que não possua cidadãos com capacidade de fazer ilações corretas e inferir a verdade dos fatos está destinada ao fracasso.

Espero, caro leitor, que faça as ilações certas e possa inferir a verdade dos fatos.

Boa Semana

2 Comments

  1. Mesquita said:

    Professor Ricardo, segundo o dicionário Koogan Larousse que utilizo desde a década de 70, “Ilação” significa inferência, dedução, conclusão. “Inferir” significa tirar uma conseqüência de um fato, de um princípio, concluir, deduzir. O grande problema é que o jovem não possui o hábito da leitura, não só da pedagógica, mas ler jornais, revistas, livros e sempre que se defrontar com palavras estranhas ao seu conhecimento ter a preocupação de consultá-las no dicionário, pois só assim enriquecerá seu conhecimento e vocabulário. Manda ler a sua crônica e depois pergunta se sabe o que é “silogismo”. É por isso que as provas de português na escola, redação no vestibular e concursos são verdadeiros desastres. Até mesmo em concurso para professor, lamentavelmente. Será que ele saberá o que é apedeuta? Enquanto isso você que é argentino ministra aula de português! Parabéns, forte abraço.

    29 de junho de 2017
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    • Caro amigo: O português é um dos idiomas mais bonitos do mundo. Minha língua materna é o espanhol, mas o do coração é o português.
      Grande abraço.
      Ricardo

      29 de junho de 2017
      Reply

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