Pontes

Tento, todos os anos, que minha primeira aula sempre seja criativa. O próximo ano começarei com os temas “Sic itur ad astra” e “Conceito 10”. Em geral somente 1% reconhece a primeira frase como sendo latim, os outros se olham uns aos outros espantados e assustados. O melhor é quando lhes digo e lhes faço pensar como as palavras se usam atualmente em nosso idioma, ou deram origem a outras. A maioria identifica rapidamente “astra” como marca de carro, mais pouquíssimos (creio que um ou dois de um universo de 700 alunos) conseguiram relacioná-la com astrologia ou estrela. Uma vez que a frase é traduzida (versão livre) para “De aqui as estrelas), lhes digo que é meu desejo para eles. Devem colocar em lugar da estrela o sonho que tenham e começar a caminhar nessa direção porque somente chegamos onde podemos imaginar e isso, se dermos o primeiro passo. Logo lhes explico o que quer dizer “Conceito 10”, que não se refere exclusivamente as notas, mas sim a todo os aspectos da vida. Nosso sistema de educação tenta convencê-los que não são capazes já que lhes pedimos que dêem pouco de si mesmos porque depois de todas as provas de recuperação um aluno pode passar de ano com uma média 5. Ou seja, que limitamos, desde a mais tenra idade, a nossos estudantes a que se exijam pouco. O que não vemos é que se dissermos a alguém que um 5 é suficiente, estamos limitando seus sonhos, estamos matando o conceito de excelência e elevando o conceito de mediocridade. É fácil ver e comprovar que quando uma pessoa busca uma nota 5 geralmente consegue 3 ou 4, eventualmente um 5, nunca conseguimos o 100% de nosso objetivo constantemente. O aluno 7 consegue 5 ou 6, as vezes um 7. Aquele que está atrás do 10 na maioria das vezes consegue um 8 ou 9. A diferença é que quem busca um 10 sempre estará acima da média e sua autoestima será cada vez mais alta, e aquele que procura a média se sentirá cada vez mais frustrado.
O exercício para comprovar isto, é perguntando as crianças de minha classe o que querem ser no dia de amanhã (médicos, engenheiros, advogados, psicólogos, etc,), uma vez que responderam os peço que se olhem uns aos outros e se perguntem se viveriam em uma casa construída por aqueles que escolheram ser engenheiros, ou se deixariam ser atendidos pelos que escolheram ser médicos e assim sucessivamente. É surpreendente a reação deles, de repente parece que a realidade entrou dentro de seu mundo adolescente, pelo menos para a maioria. Creio que a educação tem que ajudá-los a construir pontes entre seus sonhos e a realidade, mas pontes não obrigatórias, sim pontes que possam atravessar sim e quando queiram. Todos sabemos que os adolescentes vivem em mundo próprio e exclusivo, mas ao mesmo tempo lhes exigimos que estudem seis, sete horas por dia matérias que não os interessam ou que não entendem para que servem, somente o compreenderão se existe um contato com a realidade. Nós, adultos, vivemos no mundo real (Será?), e eles num mundo de sonhos e desejos, senão construirmos acessos entre estes dois mundos, o diálogo ficará muito difícil e não os poderemos ajudar como merecem.
Não sei se minha primeira classe do ano que vem fará alguma diferença, mas pelo menos todos os anos me esforço para construir uma ponte a mais. Já construiu alguma ponte entre seu mundo e o que o rodeia?

Boa Semana