Educar é como navegar

Como sempre falo da importância das palavras. Vivemos numa época que os significados se confundem, parece que ficam no meio de uma nebulosa, na qual as definições das expressões ficam todas cinzas, aparentando ser iguais.
Por isso quero esclarecer que a palavra educar do título, não tem que ver com a educação que recebemos nos nossos lares, que é a principal e fundamental para nossas vidas. Educar neste texto está relacionada com seu significado de escolaridade, de saber, de conhecimento.
O que acredito que se está perdendo na educação é a capacidade de navegar pelos mares do conhecimento. Tenho a impressão que fazemos os alunos passear por lagoas, lagunas, e até em poças.
Lembro de meus professores que eram capazes de navegar pelos mares do mundo do conhecimento, até no meio das tempestades dos debates e das chuvas de ideias fortes e tormentosas. Não existiam temas proibidos, o professor de matemática explicava como os números tinham aparecido e emendavam para como as sociedades foram sociologicamente adaptando-se e mudando em função deles como os árabes, sumérios, fenícios, etc. Nunca chegávamos à porto, sempre deixavam a chegada para a próxima classe, isso fazia com que os alunos a esperassem para saber como seria o destino final.
Quando algum acontecimento, como uma tempestade, agitava nossa sociedade, se discutia e nos ensinavam os diversos pontos de vista que a situação poderia ter. Não tomavam partido, simplesmente deixavam que chegássemos a nossas próprias conclusões. Nunca exerciam sua posição de poder para doutrinar os alunos. Saudades daqueles tempos no qual os professores de sua posição de poder nos ensinavam senso crítico em lugar de tentar nos inculcar “suas verdades”. Hoje em dia percebo que muitos de meus colegas não ministram aulas para prover conhecimento, mas para catequizar.
Nosso sistema educacional produzirá melhores resultados quando os professores voltem a serem os grandes navegantes do conhecimento. Sei que muitos deles gostariam que isso acontecesse, mas para isso devemos mudar o sistema de ensino para permitir que esta mudança aconteça. Fala-se muito de interdisciplinaridade e transdisciplinaridade, palavras novas para navegar pelo conhecimento. Para poder navegar as universidades devem ensinar melhor, o sistema tem que ser menos rígido e pensar mais nas necessidades dos alunos do que nas necessidades do Estado.
Navegar é preciso para descobrir novos portos, novas terras, seguramente com nosso barco da educação fundeado no ancoradouro das intenções, nunca melhoraremos e nunca poderemos chegar ao destino que Brasil merece. Sem navegar pelo conhecimento não se educam homens sábios.

Amigo leitor, você já teve um grande navegante como professor?

Boa semana.

2 Comments

  1. Mesquita said:

    Professor Ricardo, assim chegamos a conclusão de que precisa haver escola revisional para professores. Pelo visto, esse seria o caminho para que nosso sistema educacional obtenha melhores e mais rápidos resultados. Não será que essa tal de interdisciplinaridade e transdisciplinaridade da maneira como aportaram na educação mostram não estarem ajudando como deveriam? E nossas autoridades o que acham de tudo isso e o que estão esperando para que essas mudanças aconteçam com melhores dias para professores e alunos? Os órgãos representativos das classes docente e discente precisam se movimentar para agilização das mudanças que se façam necessárias. Forte abraço.

    14 de janeiro de 2018
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    • Caro amigo: Acredito que é um pouco a história do rei nu. Todos sabem o que deve ser feito e qual é a solução, mas todos estão mais preocupados com seus próprios umbigos do que questionar e pressionar o poder do estado. O problema está em todos nós, e a solução também passa por todos e cada um de nós. Só falta a vontade de fazer acontecer. Tenho a impressão que desde o capitão do navio até o último dos marinheiros estão muito bem acomodados nas tabernas do porto faz tanto tempo que esqueceram de como se navega em alto mar.
      Forte abraço
      Ricardo

      14 de janeiro de 2018
      Reply

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