O BOM SENSO NA EDUCAÇÃO
Quando vejo o emaranhado de leis falando de educação, junto com as teorias educacionais distanciadas da realidade e as adiciono à ambição pelo lucro comercial (escolas privadas) ou político (escolas públicas) me pergunto: – Cadê o bom senso na educação?
Não sou pedagogo, simplesmente tento ser um professor, educador já sou, pois eduquei seis filhos. Os conceitos vertidos nestes escritos não são fruto de estudos teóricos profundos das teorias educacionais, nem falam da evolução (ou involução) da educação na história da humanidade. Minhas opiniões hão sido divulgadas numa coluna semanal através dos últimos quase dez anos na Agência Rio de Notícias (www.agenciario.com.br), sendo que algumas foram reproduzidas em alguns sites e jornais. Os leitores assíduos não encontraram nenhuma surpresa, talvez encontrem uma ilação mais acabada e coerente. Para os novos leitores peço compreensão pelas minhas limitações e o esforço necessário para entender minhas intenções.
Para início de conversa, o conceito de bom senso resume um conglomerado de palavras e seus respectivos significados: sensatez, ponderação, racionalidade, tino, juízo, prudência, equilíbrio, critério, circunspecção e tantos outros sinônimos.
Quais são as áreas que influenciam a educação? Começa pela família, segue pela escola e professores, e é moldada pela cultura da sociedade que vivemos e pelos diferentes tipos de mídia. No entanto para que a educação funcione são necessários dois ingredientes básicos: 1) A vontade de aprender, 2) A vocação para o ensino. E falo de vontade no caso de aprender porque independe da capacidade ou inteligência, mas da fundamental existência desta sede do saber e do conhecimento para que qualquer programa educacional funcione. Sem o desejo não existe remédio. No caso dos professores, não é suficiente à vontade de ensinar, deve existir também a vocação, por mais que exista a vontade, se não possui vocação e alguns dons fará com que os alunos que tem à vontade a percam.
Existem as subdivisões. No caso da família, nas várias versões do que hoje é considerado grupo familiar, muitas vezes a criança tem, em lugar de um, dois, três ou mais modelos de educação. Na escola existem diversos modelos e teóricos da educação, e que não é raro que alterem sua orientação de acordo ao número de matrículas obtidas (caso escolas privadas) ou no caso das públicas, alterações no ranking internacional de pró-eficiência em educação. Quando falamos de professores, como em qualquer outra profissão encontramos profissionais com verdadeira vocação, outros atrás de dinheiro ou estabilidade, muitos cansados, outros sem a motivação (própria ou externa) que necessitam e logicamente, os bons, os medíocres e os ruins.
Entre as teorias e as realidades da educação devem entrar, para equilibrar, as equações das soluções, a proporcionalidade da responsabilidade com os meios à disposição dos executores das políticas. Não se pode pedir a uma escola que estabeleça uma determinada linha de educação se não é dada a infraestrutura correspondente, no caso das públicas, ou os incentivos proporcionais à educação privada. Da mesma maneira não podemos pedir aos pais que estabeleçam os primeiros conceitos de comportamento em sociedade (a família é o núcleo inicial de uma sociedade) se eles não têm tempo para isso. É verdade, a educação requer dedicação, constância e paciência, sendo que o tempo só dá para ir e voltar do trabalho, trabalhar e trabalhar. Os pais não tem tempo para educar, assim como a maioria dos professores não podem dar atenção diferenciada para seus alunos, devem correr de um colégio para outro, fazendo turnos duplos ou triplos para sobreviverem, sem esquecer que muitos também têm uma família.
Talvez uma maneira de resolver este problema seja usando a metáfora de usar os sapatos do outro, mas de uma forma prática. Juntar os teóricos da educação, com os professores e pais dos alunos num enorme salão, então pedir que todos tirem seus sapatos e os amontoem num lugar. Depois fazemos entrar às crianças com vendas nos olhos, eles apanham um par de sapatos e os vão entregando a primeira pessoa que encontram. Logicamente que alguém possa voltar a usar seu calçado é uma possibilidade muito remota, mas se esse for o caso, seria a mesma possibilidade que encontremos um pai, um professor ou teórico fazendo a coisa certa no meio do caos que se encontra nossa educação. Vamos ser realistas, toda atividade humana feita com amor e entusiasmo é uma vocação, mas a vocação deve ser alimentada também. No caso dos religiosos esse alimento vem da fé. No caso dos professores esse alimento vem dos alunos, é na troca de interesse e curiosidade em descobrir novos conhecimentos que a nave da escola avança. Acredito que uma boa aula é aquela na qual todos, incluído o professor, aprenderam alguma coisa nova. Pode ser algo referente à matéria, ao seu íntimo, ao seu caráter, ao conteúdo de outra matéria, sobre a vida, sobre convivência, qualquer coisa, mas todos aqueles que participaram dessa aula devem chegar a casa com vontade de dizer: Você sabe o que aconteceu hoje no colégio? Isso é o que alimenta aos professores e alunos para regressar à sala de aula. Quando um pai deve perguntar ao filho o que houve na escola e o filho responder, nada o de sempre, alguma coisa está errada. Outro sintoma é quando o filho volta da escola, cheio de perguntas, ele está querendo checar o que aprendeu e ver se está de acordo com o que o pai acha. Não devemos esquecer que para a criança a escola é o primeiro choque cultural que sofrerá na vida. Diferentes formas de vida, crenças, valores se encontram numa sala de aula, e todas elas devem adequar-se a forma que a sociedade prescreve ou recomenda. O choque não é somente para as crianças, os pais também devem entender que seu filho está deixando de ser “o rei da criação”, como é considerado na sua casa, para ser somente mais um dentro da nova sociedade. O “ser especial e único” que é nosso filho, deixa de sê-lo quando entra pela primeira vez na escola, ali é só um dos alunos. Não pode e não deve receber um tratamento diferenciado, por mais que os pais não compreendam isto. O sentimento, em geral dos pais, nesse estágio da vida é: “Como o mundo não reconhece que ele é tão diferente e especial?”. Esse é o tipo de sentimento que pode atrapalhar muito o aluno, e muito mais quando se expressa em voz alta.
Este é o início do meu livro “O bom senso na educação”
Boa semana.
Estimado Professor Ricardo. Não há a menor dúvida de que seu livro “O bom senso na educação” será um sucesso. Desde já receba nossos parabéns pela iniciativa. Você é aquele mestre observador, analítico, pesquisador e que está sempre interessado que o melhor seja feito nos vários segmentos da educação, representado pelo triunvirato “Colégio, aluno e professor”, cabendo aí a pergunta: “qual o principal pé de um tripé?” Que seu livro seja mais um daqueles que os pais procuram ler atentamente com a chegada do filho para se orientarem para as diversas fases que enfrentarão visando sempre o melhor para aquele ente tão sonhado, esperado e desejado. Parabéns, sucesso absoluto, forte abraço.
Querido amigo e colega: Agradeço todos seus comentários. Não sei se realmente sou merecedor deles. A benevolência de seu olhar vem da nossa amizade, espero que o mundo tenha para mim o 10% de consideração da que você me outorga. Um grande abraço de seu sempre amigo e camarada. Ricardo