Talvez por agora morar numa cidade praieira, talvez pelas minhas lembranças do colégio naval, ou simplesmente por pensar demais cheguei as seguintes conclusões, com as quais podem não concordar e nesse caso fiquem à vontade para rebate-las.
O mar ocupa aproximadamente 71% da superfície da terra. Caso façamos uma analogia com o conhecimento, podemos comparar que geralmente somente surfamos sobre o conhecimento, os mais audazes conseguem navegar por ele, e poucos, muitos poucos chegam a mergulhar em certas áreas e até certa profundidade.
Não podemos esquecer que muitas pessoas têm medo da água, assim como de preocupar-se com coisas entediantes ou triviais (assim chamam ao fato de ler ou aprender). Não estou aqui para julgar ninguém, mas já perceberam que há muitas pessoas que navegam pelos oceanos, mares, rios da vida sem saber como funcionam os equipamentos que os levam de um lugar a outro.
Gosto muito do esporte de surf, acho incrível o que Medina e o Mineirinho fazem para a autoestima dos brasileiros, mas vocês devem concordar comigo que a mídia sempre dá e deu mais destaques a surfistas do que a alguém como Amyr Klink, grande navegante brasileiro.
Quando falo de surfar, navegar e mergulhar, não falo somente dos mares, também estou referindo-me ao espaço, algumas pessoas surfam com ultraleves, outras mergulham em paraquedas, e outros chegam até além dos confins do que conhecemos como limite de nosso céu, os astronautas.
Também falo de nossos relacionamentos. A maioria das vezes surfamos na superfície das ondas dos sentimentos, alguns até conseguem faze-lo nas ondas emocionais das discussões e altos e baixos das emoções. Poucos conseguem navegar através da escrita, da fala e outras expressões da arte para chegar aos corações das pessoas e conseguir que eles sintam sensações diversas. Os eleitos, esses chegam a mergulhar dentro de si mesmos e produzir maravilhas. Eles terão recebido dons divinos? Uma educação especial? Pais diferenciados?
O único que posso dizer é que minhas conclusões sobre educação são as seguintes: Se sabemos tão pouco, o menos que podemos fazer é ensinar primeiro a vastidão do mar do conhecimento, ajudar a que nossos alunos pelo menos saibam o tamanho do que há para saber e o pouco que todos nós sabemos. Ajudar e ensiná-los a surfar pelas ondas pequenas da escola, para quando cheguem a estudos superiores possam surfar os desafios das grandes ondas. Depois, aqueles que assim o desejem podem começar a navegar pela vastidão das bibliotecas, e conhecimentos já adquiridos, para algum dia poderem mergulhar nas profundezas do raciocínio para tentar chegar ao saber.
Meu sonho é que algum dia nossas crianças possam surfar, navegar e mergulhar com alegria nos mares do saber.
Boa semana.
Caro professor, todos esses ensinamentos devem começar em casa com os pais para depois serem aprimorados e ampliados na escola e em seguida na universidade, mas as razões por que isso não acontece regularmente com muitos tem vários fatores, a começar que muitos pais não tendo para si não têm como passar para os filhos. Muitos não podem frequentar uma boa escola, uma boa faculdade, além de que poucos são os filhos que procuram os caminhos do saber por iniciativa própria. Por outro lado o Estado quando não é omisso não abre as portas em número suficiente para os que o procuram. Muitas são as dificuldades. Aliás, li hoje uma crônica do psiquiatra e psicoterapeuta Edson Nascimento, de Ribeirão Preto-SP, sob o título ”O Perfil de um esquerdopata” que, coincidentemente, diz muito a respeito do que você nobre professor enfoca nesta sua crônica. Parabéns, forte abraço.
Caro colega de navegação: Entendo tudo o que você diz e concordo com a crônica mencionada, mas há um fogo interno que é o principal fator para o crescimento na área do conhecimento, e este é a curiosidade. Mais importante de tudo o que temos falado é a capacidade de despertar nas crianças nos seus primeiros anos de vida o fator “curiosidade”. Sem ela nunca teremos surfistas, navegadores ou mergulhadores do conhecimento.
Um forte abraço.
Ricardo
Marinheiro Aprendiz