Senti vergonha

Ontem senti vergonha. Grupos de desaforados, desocupados e marginais usurpando o nome de trabalhadores tentaram parar o país. Sou um trabalhador, e não me vi representado ontem na suposta “greve geral”. O jornal fala que os atos foram aproximadamente em 250 cidades. Nos outros 5.000 municípios do país houve normalidade.
Minha saudosa avó Elvira sempre me falou: – Filho, cuidado com quem você anda, as pessoas vão pensar que você é igual a eles. Mulher sábia, que nasceu no século XIX, não terminou a escola primária porque o pai achava que mulher não devia estudar. O mundo perdeu um intelecto superior.
Mas voltando ao tema da minha vergonha, e imagino a de muitos trabalhadores do nosso Brasil, e de acordo ao conselho da minha avó, gostaria de deixar bem clara minha posição sobre o suposto paro do país na última sexta-feira. Intelectualmente apoiei a iniciativa, já que é um direito dos trabalhadores expressar seu descontentamento. Porém, no transcurso do dia pude observar que tinham poucos trabalhadores, e espero que esses poucos tenham sido considerados participantes por engano. O que sim vi, foi vândalos participando de badernas, queima de ônibus, 30 ou 40 deleitantes da esquerda parando o fluxo de veículos na ponte Rio-Niterói, com carros de luxo e aspecto festivo, em lugar da suposta seriedade e consequências do ato que estavam realizando.
Conheço muitos trabalhadores, como eu, como você, e quando falo de trabalhadores me refiro a aqueles que trabalham oito a dez horas por dia, e viajam três a quatro para ir e voltar do seu trabalho. Dentro da minha profissão, alguns se reuniram em praça para dar uma aula pública, e apesar que não concordo com as convicções políticas de alguns deles, apoiei o movimento já que declararam que era apolítico. Não houve tumulto nem palavras de ordem, estavam unidos no exercício de um direito que a democracia dá, reivindicar o que se acha correto. Foi, até onde sei um protesto cidadão.
Lamento profundamente que um direito do povo de se manifestar pacificamente, reclamando o que considera seus direitos, tenha sido utilizado por extremistas políticos para perturbar a ordem e querer demonstrar que o povo apoia certas bandeiras ideológicas ou atos de violência como paralisar ou depredar transportes públicos. Somente dementes podem pensar que o povo vai querer destruir algo de uso deles, de coisas que lhes pertencem. Quem depreda um transporte público o faz porque não é trabalhador, não faz uso ou não precisa dele para ir trabalhar. O desordeiro, o bagunceiro, o vândalo não é trabalhador, é contra o trabalhador. Dois significados me chamaram a atenção na definição do Aurélio on-line: 1. Pessoa que trabalha e 4. Que gosta de trabalhar, laborioso. Com certeza aquele que possui essas características não faz tumulto nem bagunça, e os que participaram, como eu, pensando que seria uma manifestação ordeira e pacífica, acabamos sendo os idiotas úteis, uma vez mais.
Ontem senti vergonha pois por tratar-se de um movimento dos trabalhadores, que ficou cheio de não trabalhadores, pessoas cheias de más intenções e propósitos ruins. Espero que minha vó querida lá do céu, saiba que nunca me associei a eles nem são meus colegas.

Boa semana.

2 Comments

  1. Mesquita said:

    Lastimável toda essa baderna que assistimos faz tempo em todo o país. Não deixar as pessoas ir a lugar algum não envolve a ponderação de valores jurídicos envolvidos, é abuso de direito camuflado de exercício regular de direito. Que de regular e de direito não tem nada! Muita violência, agressões, destruições, instinto animalesco, devassidão. “Chegou a hora de darmos um basta a esse “direito” de não deixar as pessoas ir a lugar algum! O direito de reunião, a livre manifestação do pensamento e a greve devem sempre ser assegurados, a todos os grupos e correntes filosóficas, mas de modo que jamais sejam desvirtuados a favor do abuso de direito, permitindo sempre a todas as demais pessoas o direito de ir e vir” (Carlos Eduardo Rios do Amaral, Defensor Público do Estado do Espírito Santo)

    30 de abril de 2017
    Reply
    • Associar a denominação greve, trabalhador à manifestações partidárias, baderna, queima de ônibus é denegrir a imagem do trabalhador. Isto sim, ajuda aos interesses escusos.
      Obrigado por compartir seus pensamentos.
      Ricardo

      1 de maio de 2017
      Reply

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