O tsunami de lama

Faz algumas semanas que não escrevo minha crônica. Já chegaram algumas reclamações dos leitores. Mas, eles devem compreender que ultimamente temos tido uma avalanche de notícias que têm transbordado minha capacidade de entendimento. Nunca vivenciei um tsunami, no entanto a sensação de falta de ar, a urgência de reagir e tentar chegar a superfície para conseguir respirar, foram sensações muito vívidas nestes últimos dias.
Fiquei até com medo de ouvir as novidades, ou ler as mensagens do WhatsApp, já que foram como socos no estômago. Enquanto estou escrevendo esta crônica estou ouvindo as gravações dos irmãos Batista (JBS) e fico totalmente perplexo, devido a forma descarada em que se ouve as pessoas envolvidas falando entre eles e das outras autoridades.
A impressão que fica é que as autoridades que temos eleito não são autoridades em experiência política, mas em esperteza política. Mais uma vez a vida nos mostra que o conhecimento do idioma é muito importante. Experto e esperto têm significados totalmente opostos, mas aparentemente nossos espertos têm-se fantasiado de expertos.
O processo que nosso país está vivendo não tem nada que ver com partidos ou ideologias políticas, na realidade refere-se à crise ética e moral que nosso povo está vivendo. E falo do povo porque esta crise moral e ética permeia nossa sociedade em todos os níveis sociais e econômicos. Anos atrás tivemos a publicidade de cigarros que falava da filosofia de levar vantagem em tudo, e que lamentavelmente já mostrava onde chegaríamos caso continuássemos pensando assim. Chegou a hora de pagar a conta. Temos que deixar de achar que os culpados são os que estão no poder, somos nós como povo os responsáveis. Fomos nós que os colocamos lá, uma e outra vez. Tenho mais de 40 anos de Brasil e desde que cheguei ouço e vejo as mesmas pessoas ou seus descendentes usufruindo do poder.
Continuemos sem educar o povo e seguiremos tendo os mesmos resultados nos próximos 50 anos. Quando falo de educar, não falo de dar conhecimentos ou diplomas. Temos que ter professores que ensinem a pensar, a raciocinar e não que doutrinem de acordo às suas convicções, mas que permitam aos alunos chegarem às suas próprias conclusões. Vivi o que Perón fez na Argentina, fez uma lavagem mental de toda uma geração, os doutrinou de uma forma tal que até hoje Argentina sofre as consequências dessa loucura. Argentina passou de ser a terceira economia do mundo e ter 98% de seu povo alfabetizado, para ser o que é hoje.
Nesta altura da minha vida, sei o que fiz de bom e quando errei, mas uma das coisas das que me orgulho é que nunca ninguém vai poder dizer que alguém me pagou para trair minhas convicções. Até saí de empregos por não aceitar atitudes que considerava erradas de meus empregadores. Minha família sabe disto porque tem sofrido as consequências. Quem está certo? Os expertos ou espertos? Você decide.

Boa semana.

2 Comments

  1. Mesquita said:

    Professor Ricardo, melhor analisando, tudo isso mais parece uma grande erupção vulcânica, geralmente associada à extravasação do magma de regiões profundas da terra, provocando tsunami, maremoto, terremoto a um só tempo, uma catástrofe. Culpa exclusiva de eleitores “espertos” que concedem poderes em demasia, pelo voto, a “expertos” políticos que só pensam em si e nos seus grupos, cuja crise ética e moral nada mais é do que existe aqui fora em nossa falida sociedade faz tempo. É como diz a cantiga da perua, cada vez pior, pior, pior. Mas até quando se não vislumbramos um pequeno sinal de esperança? Depois do mar de propinas por parte das construtoras, explode esta semana o da JBS-Friboi/Seara com centenas e centenas de milhões de propinas. Será que estes “espertos” eleitores, otários, estão cientes de que estão pagando tudo isso através do preço dos produtos e serviços como é o caso agora da carne? Fica claro professor que o país vai precisar de mais de cinquenta anos para mudar a mentalidade desses “espertos” e “expertos”. Deus tenha piedade de nós…

    19 de maio de 2017
    Reply
    • Até que a esperteza não dê lugar a experiência, e então o povo seja educado para distinguir experiencia da esperteza o tsunami não vai acabar.
      Abraços
      Ricardo

      20 de maio de 2017
      Reply

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