Próximo passo: Parque de diversões

“A cultura forma sábios, a educação homens”, Louis Bonald. Este pensador francês declamou isto no século XVIII. As primeiras escolas nasceram no século XII, e de acordo a Luiz Fujita: “Foram as escolas fundadas na Europa no século 12. Isso se considerarmos o modelo de escola que temos hoje, com professor e crianças como alunos. Na Grécia antiga as crianças eram educadas, mas de modo informal, sem divisão em séries nem salas de aula. Já na Europa medieval o conhecimento ficava restrito aos membros da Igreja e a poucos nobres adultos. A palavra “escola” vem do grego scholé, que significa, acredite se quiser, “lugar do ócio”. Isso porque as pessoas iam à escola em seu tempo livre, para refletir. Vários centros de ensino pipocaram pela Grécia, por iniciativa de diferentes filósofos. As escolas geralmente eram levadas adiante pelos discípulos do filósofo-fundador e cada uma valorizava uma área do conhecimento. A escola de Isócrates, um exímio orador, por exemplo, era muito forte no ensino da eloquência, que é a arte de se expressar bem. Mas as escolas multitemáticas, que contemplam as disciplinas básicas que temos hoje, como matemática, ciências, história e geografia, só surgiram entre os séculos 19 e 20.” http://mundoestranho.abril.com.br/historia/qual-foi-a-primeira-escola/ 25/05/2017 – 18:45.
Caro leitor, observe que estamos transformando as escolas atuais em instituições similares às primeiras escolas gregas, que eram lugares de ócio. A diferença é o conceito de ócio dos gregos e de nossa cultura atual. Na antiguidade ócio equivalia ao tempo que se tinha para refletir, para pensar, para elucubrar ideias. Atualmente o ócio é considerado o tempo que as crianças passam dialogando com as telas dos celulares ou dos computadores com o mundo virtual. Ou seja, permitimos que vivam num mundo irreal. Hoje o conceito que vemos nas escolas é o aprendizado lúdico, que significa dar conhecimento enlatado e previamente digerido para que os alunos de uma forma divertida o memorizem para que possam dar as respostas certas no momento da prova. Nosso sistema educativo não ensina a refletir, a pensar, a ter espírito crítico, muito pelo contrário, está destinado a fazer uma lavagem cerebral ou uma doutrinação social e política. As instituições educativas, com honrosas exceções, têm se transformado em clubes para socializar, nos quais os alunos têm como prioridade o convívio com os colegas (faz parte da educação, na medida certa, e não como prioridade) e os professores (na sua grande maioria) sofrem o desgaste de ter que motivar constantemente turmas apáticas e que não recebem nos seus lares a iniciativa da procura do saber, senão a procura constante de diplomas (notas) que atestem seus conhecimentos, independentemente que os tenham ou não.
Vivemos uma época estranha. Uma época na qual os diplomas são fundamentais para passar em concursos, conseguir entrevistas de emprego, e ao mesmo tempo o conhecimento fica relegado a um segundo plano. É mais importante ter uma rede de amigos virtuais, do que ter um grupo de amizades reais. É fundamental poder mostrar que somos espertos em lugar de expertos. Interessa mais quem tem influência do que aquele que tem conhecimento. Não interessa o caminho que seguimos para chegar a algum lugar, mas ter chegado. Caso tenhamos uma boa conta bancária (sem considerar de onde veio o dinheiro) seremos recebidos com o título de doutor, caso sejamos um cidadão normal, teremos que passar pela porta giratória, que nem sempre nos deixa passar.
Tenho medo que meus netos não tenham tempo de terminar seu colégio/clube, pelo menos ainda estão aprendendo alguma coisa. Daqui a pouco teremos os colégios “parque de diversões”, nos quais se aprende somente através da diversão.
Lembrem, ócio para os gregos significa tempo para refletir, ócio para nossa cultura é diversão.
Dizem que a vida é pendular, da época do pêndulo do aprendizado através da dor e a imposição já se está chegando ao outro extremo, esperemos que algum dia possamos ver a educação onde deveria estar. Ensinar com amor, com paciência e estímulo, a pensar. Na medida que as crianças aprendam a pensar o conhecimento se respira no ar, nas perguntas, na curiosidade. Devemos incentivar nas crianças que nunca percam a capacidade de perguntar porquê, não existe nada mais triste que ter uma sala de alunos que quase nunca pedem uma explicação ou perguntam a causa ou origem de algum conhecimento.
Espero que a época do parque de diversões na educação acabe rápido. Acredito que os pais e os colégios têm esquecido que disciplina faz parte da educação, assim como as boas maneiras e o respeito também. Hoje tudo é permito e relevado, fico com medo do mundo que teremos quando a geração parque de diversões chegue ao poder. Lembrem a educação vem do berço, a cultura a encontramos na escola e na vida. O que não aprendemos no nosso lar com nossos pais, ou de nossos mestres, a vida nos vai ensinar de uma maneira muito mais dura.

Boa semana.

2 Comments

  1. Mesquita said:

    Professor Ricardo, integrado ou não no sistema educacional, as verdades que transmite nessa sua crônica choca a todos nós que viemos de uma época bem diferente. Não precisa ser da área, bastando que se tenha o hábito de ler, acompanhar o noticiário, oportunidade de conversar com um professor e logo se constata o que você comenta. Lamentavelmente quem menos observa, acompanha e sente estas transformações são os pais, que deveriam ser mais atentos, presentes e observadores. Já podemos antever o que será daqui para frente, analisando o que vem acontecendo. O que esperarmos dos futuros formandos, quanto a inteligência, competência, eficiência e profissionalismo? Será que vão conseguir viver só de influência? Excelente matéria, forte abraço.

    28 de maio de 2017
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    • Os romanos já faziam o que nossos governantes fazem. Divertimento em lugar de educação. Vale cachaça e vale alimentação em lugar de responsabilidade. Vandalismo em lugar de manifestações. E principalmente ensinar a nunca perguntar porquê, só aceitar o que coronel de turno determine.
      Esperança ainda existe, é o último que se perde.
      Forte abraço
      Ricardo

      28 de maio de 2017
      Reply

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